03/03/2008

Entrevista à associação C.A.P.E.L.A


Objectivo da entrevista: obter informações sobre as várias comunidades linguísticas e sobre o seu modo de vida em Portimão.


1- Porque motivo decidiu viver em Portugal?
Decidiram vir por notarem que se vive bem devido ao Algarve ser uma zona turística, ter um clima bastante agradável e existirem diversas áreas de trabalho.

2- Há quanto tempo vive em Portimão?
A senhora Ludmila encontra-se em Portimão à 7 anos, veio em 1990 para Portugal. Por sua vez, a senhora Liliana é residente em Portimão há menos tempo, veio em 2001 e está cá à 5 anos.

3- Como foi a sua adaptação?
O tipo de adaptação depende de cada pessoa. Para a senhora que veio para Portimão mais tarde, a adaptação foi muito fácil, apesar do horário e o clima serem diferentes. Esta senhora chegou no Inverno e estava um dia de sol, o que lhe agradou imenso. Gostou muito do sol e de ter recebido o calor das pessoas, que lhe ajudaram a aprender a língua, apesar de nem sempre a corrigirem. Arranjar trabalho foi fácil, pois procurava qualquer coisa mesmo tendo estudos académicos.
Por sua vez, a senhora que chegou mais cedo, também chegou em Dezembro mas não lhe agradou o clima, dado de que não gosta de calor. Também achou fácil arranjar emprego, mas passou de gerente de um banco (era a sua profissão no país de origem) a empregada de limpeza ( profissão que exerceu em Portimão).
Ambas agarraram um emprego para assegurarem a sua vida e partilham a mesma opinião acerca do facto de ser difícil a forma de falar.

4- O que levou a criar esta associação?
Quem criou a associação foram pais/ professores cujos filhos foram os primeiros a ser integrados nas escolas. Devido aos problemas que tiveram de enfrentar e por terem ajudado os seus filhos a integrar-se. Nesta associação os emigrantes do leste são ajudados em qualquer dúvida que tenham, é-lhes dado informações sobre finanças, legalização, segurança social, emprego, escola, etc. A associação fornece um atendimento completo.

5- Obteve alguma ajuda da câmara municipal?
Sim, a câmara municipal forneceu o edifício desde 2003. É nesse edifício onde atendem as mais variadas pessoas de todas as repúblicas do leste.

6- De que forma sente que é influenciado/a no seu dia-a-dia através da nossa cultura?
Ambas têm uma opinião unânime no que toca á forma como são influenciadas. Consideram-se pessoas muito abertas e acham que aceitar a cultura portuguesa é bom para crescerem como pessoas. Quanto á gastronomia, no princípio não gostaram logo de tudo, mas com o passar do tempo começaram a habituar-se e agora já comem de tudo. Aceitaram a nossa cultura visto que festejam os feriados da nossa cultura e da deles. Festejam os nossos feriados nacionais, Páscoa, natal, passagem de ano etc.
Quando podem esforçam-se por mostrar a cultura do seu país. Isto confirmou-se na expo-social que ocorreu em Portimão em Janeiro deste ano.

7- Acha que tem ajudado a sua comunidade linguística através da associação que criou?
Sim, esta associação tem sido procurada por todo o Algarve. Proporcionam explicações e aulas de português e inglês para adultos e crianças. Também têm aulas de dança constituídas por 3 níveis.

8- Costuma encontrar-se com membros de outras comunidades? Se sim, onde?
Sim, encontram-se com associações como, “eindistebra” de Setúbal, “casa da música” e “casa do Brasil” de Lisboa, “cabo-verdiana” do Algarve, “centro cultural moldavo” em Lisboa entre outras. Recentemente marcaram encontro com a associação guineense. Encontram-se em locais como o 2º fórum de Setúbal que são 3 dias e no parlamento pelo convite do presidente da república.

9- É díficil a adaptação dos estudantes da sua comunidade linguísticas nas escolas portuguesas? Que tipo de apoio é que as escolas e a camâra municipal lhes concedem?
Não é fácil, existe uma barreira linguística, e algumas escolas acabaram com as aulas de apoio, o tipo de apoio que existe nem sempre é o mais apropriado visto que limitam-se a ensinar palavras em vez de ensinaram a forma de falar. A câmara municipal oferece bolsas sociais a famílias carenciadas e para isso os pais têm de preencher requisitos.

10- Os emigrantes têm muita dificuldade em encontrar emprego quando vêm cá? Em que profissões se destacam?
Ao virem para cá é díficil encontrarem emprego de acordo com as habilitações literárias que têm do seu país de origem. Apesar de alguns emigrantes terem cursos universitários, procuram emprego em todas as áreas e raramente lhes é dado um emprego de acordo com os seus estudos. Conseguir isso é muito trabalhoso porque há muitas etapas que têm de ultrapassar, como por exemplo as equivalências. Para a maioria dos homens, o emprego que rende mais é trabalhar nas obras, visto ser um emprego que ocorre durante o ano inteiro. A maioria das mulheres, acaba por trabalhar em hotelaria, embora não se contentem com isso, pois muitas vezes são empregos que só são garantidos no verão. No geral todos procuram um emprego que seja estável.

11- Ao chegar a um novo país, os estrangeiros têm tendência para formar grupos em que se inserem pessoas da mesma nacionalidade. Para si, quais são os motivos a que se deve essa formação de grupos?
Essa formação de grupos da mesma comunidade linguística muitas vezes deve-se ao facto dessas pessoas não saberem a língua , as leis, lidar com certos assuntos, etc. E também a uma simples necessidade de troca de informações, ao que eles chamam de “correio cigano”.

12- Acha que se devia alterar certos aspectos para uma melhor inserção dos emigrantes na sociedade?
As dirigentes consideram que a sociedade podia fazer ainda mais. Pensam que o estado não gastou dinheiro em formar pessoas do leste, não se preocupa em adaptar os cursos. Pensam ainda que o estado podia fazer uma avaliação para uma mais valia do povo português.

Curiosidades:


• A associação já trabalha muito bem e no ano de 2007 obteve 6.000 atendimentos;
• O seu logótipo são duas mãos dadas; para a equivalência de cursos gasta-se mais de 1.000€;
• ao virem para cá os emigrantes tentam agarrar a primeira proposta de trabalho para assegurar a sua vida;
• no geral todos os emigrantes desta comunidade linguística acham difícil a compreensão da língua.

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Quem somos?

Os heterónimos
Aurora Offermans, Joana Nunes, Nicole Alegre e Pedro Marrachinho - somos um grupo de alunos da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes - Portimão, da disciplina de Área-Projecto, turma E do 12.º ano e estudantes do Curso de Línguas e Literaturas.

O nosso objectivo?

Através deste projecto pretendemos mostrar à comunidade portimonense de que forma as várias comunidades linguísticas presentes no município contribuem para o seu desenvolvimento e como estas também são influenciadas pela nossa cultura.